origem

sábado, 24 de março de 2012

(Basto)nada !

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia de chávenas voadoras
do café Brasileira do Chiado...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver....era a bófia !

Os bastões caíam do azul cinzento do céu,
escuros, pesadotes e frios…
Há quanto tempo não os via!
Desde a última greve geral...
E que saudades, Deus meu!
Olho-os através das derrubadas cadeiras,
chapéus-de-sol e mesas da esplanada...

Puseram tudo da cor dos eritrócitos.
Passa gente e, quando passa,
o bastão imprime e traça
na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos manifestacionais...
E doridos, com o nariz inchado…

O Corpo de Intervenção Rápida deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos...
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas os manifestantes, Senhor,
porque lhes dais tanta dor...de cabeça?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica presa...
com termo de identidade e residência...


Não é Florbela Espanca...mas podia ser...


Sem comentários:

Enviar um comentário