Voltou à realidade e limpou os cantos da boca e reparou que o cão olhou para ele com um ar reprovador.
"Que foi ?! Nunca viste ?", perguntou ao quadrúpede.
O cão, que por acaso até tinha uma forma humanoide, levantou-se e começou a acariciar os seus proprio mamilos, perante o olhar perplexo do Alce. Subitamente, espetou uma valente murraça nos queixos do dono !
"Apanhei-te desprevenido, não foi, seu maricas ?", exclamou o animal que prontamente despiu o fato de latex e foi-se embora latindo ordinarices.
"Devias aprender a saber rir dos embaraços e assim aproveitavas muito melhor a vida, ó pervertido...", sussurrou a custo e deixou-se cair de novo na cama, adormecendo agarrado a um peluche...
Era o Alce quem usava calças na família. Tornara-se frio e distante devido à sua breve passagem pelo transformismo e por isso, distanciou-se do Paulo Portas. A relação com a sua família também não era a melhor. Nunca conseguiu ultrapassar o facto de têr apanhado os pais numa sessão de sexo em grupo...«Foi a primeira e a última vez que venho à net usar o Skype», lamentou Alce. Tinha ficado traumatizado com o que acabara de vêr e com o valor da mensalidade no final do mês, fruto dos consumos extra que efectuou. Tudo porque, como não acreditou no que os seus olhos viram, colocou a gravação do vídeo dos pais em loop durante horas. «Sim...são eles...reconheço o sinal que está no rabo do meu Pai e as estrias da minha Mãe...» Não restavam dúvidas...
De quando em vez e para disfarçar a esta sua amargura parental, o Alce troca as calças por umas ligas e umas lantejoulas e lá vai ele para a noite...! Assim conseguia libertar-se dos problemas e sentia-se novo, confiante e até atrevido : aquele em que participava nas reuniões dos Alcoólicos Anónimos e como tal, recusava-se de dizer o seu nome ; aquele em que cai propositadamente em cima dos policias só para tocar nas suas fardas sexys ; aquele em que assusta desconhecidos durante a noite só para os vêr aterrorizados e a gritar por ajuda.
Durante o dia, como precisava de dinheiro e de fazer descontos numa profissão dita normal, resolveu trabalhar num hipermercado que por razões óbvias de publicidade, não poderei dizer que é o Jumbo da Amadora. Trabalhava na secção de menáge, só para ouvir a caixa central chamá-lo em alta voz : "Menáge na caixa 2!". O Alce queria mais...muito mais...
Namorava com a empregada da secção de lacticínios, que tinha síndrome de Tourette's e que costumava gritar aos clientes :
"Ponham o queijo da serra no cú, seus cara***s !!!".
Como já não tinha Internet, o Alce tinha que usar outras formas para se excitar, né ?
Horas depois, acordava com o toque do telemóvel. Era o meia-dose, o seu amigo anão. Segundo o Alce, era impossível estar perto do meia-dose sem ter o desejo incontrolável de o abraçar e de lhe fazer festinhas. É simplesmente adorável. E além disso, tem super-poderes e tudo ! Por exemplo, nos dias em que bebe muito, o meia-dose usa a técnica da eco-localização, ou seja, põe-se a gritar e a fazer estalinhos com a boca e desta forma já não bate contra as paredes nem cai de pontes abaixo.
"Tou ? Meia-dose ?", balbucionou Alce.
"Sim ! Olha, escuta...sempre vamos passar a tarde mascarados de policias, a bater à porta das pessoas a dizer que os seus entes queridos morreram num desastre ?", perguntou o meia-dose.
"Ya, meu...ou isso ou vamos dar viagra ao Monstro das Bolachas de forma a convencer os bacanos da rua Sésamo a abrir lá um club de strip !", rematou o nosso herói.
Era este o dia-a-dia do Alce...repleto de dúvidas.
Ontem à noite bebeu meia garrafa de Jack Daniel's enquanto via a Casa dos Segredos, fumou uma ervinha, tocou-se em frente ao Antunes e adormeceu agarrado ao peluche.
Hoje acordou a vêr cenas pixelizadas.
Fez reset de fábrica.
Ficou ok...